26.12.06

SERENIDADE NATURALIDADE PEQUENO CINEMA

Naturalmente, tudo são pedras, brisas, pequenos ruídos quase inaudíveis. Naturalmente, o pó acumula-se com muita calma nos sítios mais incríveis. Estamos numa casa. É possível. É desejável. É natural. O homem diz: “eu sou eu”. O homem pergunta: “sou eu eu?” Naturalmente, nada lhe é dito. E ele escuta. Ele está a olhar.



Se estivesse a representar, se pretendesse ser outro perante os outros, talvez fosse desconfortável este silêncio, de súbito a encher-se de tambores, sons que ele não escuta, que escuta mas não ouve, que ouve mas não é. Há um sol, há um tempo sereno de licor e cachimbo, há um caminho de pequenas flores amarelas. Um caminho de luz.


Pólen e aço, madeira polida, paredes, fibras, e todos à espera do acontecimento, que ninguém sabe qual poderá ser. Uma breve comichão, uma gota de água por dentro do nariz, uma certeza de arquitectura e de cor, tecido e pele, uma mão que se move, e é isso que acontece. Pois que mais poderia ser?


Qualquer voz que agora se erguesse, qualquer palavra quebraria o feitiço. Diz quem sabe que tudo está no olhar. Quem sabe mais ainda nada diz. O tempo é coisa dos espíritos. O escuro é apenas o escuro. Descansem, meus amigos: imaginem um rio, uma pintura, um grupo de homens e mulheres nus a dançar à volta de uma fogueira. Espero que estejam bem sentados.

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