18.12.06

NAVIO ESCREVENTE GIN SOL

O homem diz-se nada inspirado. O dono da ilha do tesouro é agora um vendedor de cera, para os momentos difíceis. A rapariga que está a cantar não entende nada do que sofro, e o outro, o que toca guitarra, está limitado pelo espaço-tempo da canção. Por quem os sinos dobram. Por Ulisses, o estrangeiro.


Um estrangeiro em Creta. Com uma rapariga, claro. Santuário. Irei cuspir-vos sobre os túmulos, num imenso adeus. O homem recorda aquele momento da cobra gigante e da jangada, mas isso já não conta, pois que os seus amigos vão ser enforcados, e agora ele já não tem tempo para dar a volta ao mundo em oitenta dias em balão.

A melhor mentira é a que é mais bem contada. Olha este: esteve na China, na Indochina, sabe tudo dos aviões que bombardeavam a pobre rapaziada antifascista, em Espanha, em 39. Nós, os que moramos à beira-Tejo, quando queremos contar da nossa glória, temos de nos lembrar daqueles anos tão longínquos que já não são nossos, impostos, telemóvel, jornal das oito.


Também há uma hipótese de banda desenhada na noite terna. Há um acaso de passagem por aqui, e depois um rio negro. Há um cansaço da infância e da juventude, aventura é adormecer. No escuro, os anónimos escrevem cartas em que prometem voos para cidades onde há casinos e muitas ruas. A única chatice é a lentidão. A lentidão é a única vantagem.

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