24.12.06

INVERSO VAMPIRO CRIME DECISÃO

Neste teste é perfeitamente admissível o “talvez”. “Sim” a norte e “não” a sul, ou vice-versa, não é, de facto, dente que alguém queira que lhe doa. Outra coisa que também é perfeitamente clara é que um poeta tem sempre uma bicicleta. Assim, quando na hora certa o homem regressa à incerteza do ser em que acordou, pela manhã, só lhe resta a triangular hipótese da experimentação. O empírico “talvez” chamar-se-á inspiração.


Nos cantos, nada será cinzento. Já a mãe dele lhe dizia que ou é preto ou é branco. Claro que ela vivia muito afastada do mundo real. Claro que teremos de ir mais longe: uma namorada que o espera, sentada numa mota, a ler o resumo do código da estrada, e um certo desejo de que o seu odor fique naqueles tecidos caros sem razão. Claro que tudo isto é mentira.

A verdade: é de manhã, ou de noite, não interessa, e esse tipo esquisito, por força do destino, que o fez pequeno-burguês, tem de sair, à procura de vítimas. Se lhe perguntarem: “o que é o sangue?”, ele responderá: “não tens nada a ver com isso”. Tudo isto é muito estranho, não acham? Mas o mais estranho será quando, ao defrontar-se com a luz do dia, ele ler na primeira página do jornal que os mineiros estão a morrer com cancro no pulmão, enquanto os donos das empresas têm carros de luxo.


Rotina, a esquerda é a direita, e aí vai uma rapariguinha com laçarotes no cabelo à procura de um coelho que fala. Ninguém acredita. Esperemos que não toque o telefone. Talvez um pouco de brilhantina. Talvez um bigodinho. Esperemos que não toquem à campainha. Talvez uns óculos escuros. Mesmo que não a tenha, um poeta deve ter sempre uma bicicleta. Sim, uns óculos escuros são fundamentais.

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